1 – O Sistema é o GNSS, não GPS!
O sistema que todos usam para navegar em celulares e outros aparelhos é o sistema GNSS -Global Navigation Satellite System ou Sistema Global de Navegação Por Satélite, essa tecnologia foi desenvolvida nos E.U.A. ainda na década de 1970 para fins militares e é óbvio que alguém lá viu nisso a chance de ganhar muito dinheiro no mercado civil. O GNSS é o sistema que através de uma “constelação” de satélites orbitando ao redor da Terra, permite o envio de coordenadas , isto é, da localização de algo ou alguém no planeta, devido à enorme quantidade de satélites, os mesmos agem em conjunto, para tornar essa localização mais exata. Ou seja, a tecnologia é a GNSS. Mas e o GPS nessa história?
O sistema inicialmente era o NAVSTAR-GPS, desenvolvido e controlado pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos - inicialmente para fins militares e posteriormente aberto para uso civil - até hoje é o sistema mais utilizado no mundo. Trabalha com uma constelação de 31 satélites, de forma a garantir que sempre tenham, ao menos, 24 satélites operando, distribuídos em seis órbitas, a uma altitude aproximada de 20.200 km da superfície terrestre.
2 – O GPS é Único?
Graças a Deus não é, o GPS – Global Position System é o sistema norte-americano para esse fim, utilizando sua rede de satélites. Como boa parte do mundo, principalmente os países desenvolvidos entenderam que a soberania tecnológica era vital para o futuro de cada nação – e também perceberam o tamanho do problema de ficarem reféns de uma tecnologia exclusiva – desenvolveram seus próprios sistemas GNSS, muitos até melhores que o próprio GPS, os principais são:
O que poucos sabem é que o
Brasil mantém uma parceria estratégica única com a Rússia neste setor: o país é
o maior hospedeiro de bases de controle do GLONASS fora do território russo.
Atualmente, o Brasil abriga
cinco estações de controle do GLONASS, localizadas em universidades federais
estrategicamente distribuídas pelo território nacional: Universidade de
Brasília (UnB), Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Universidade
Federal de Pernambuco (UFPE), Universidade Federal do Pará (UFPA), e uma quinta
estação na região Norte.
Essas bases foram instaladas
através de acordos de cooperação tecnológica entre Brasil e Rússia,
estabelecidos a partir de 2013. Em troca de hospedar a
infraestrutura russa, o Brasil obtém acesso privilegiado à tecnologia GLONASS e
participa do aprimoramento do sistema. As estações brasileiras são
responsáveis por calibrar os satélites russos e melhorar a precisão do sistema
para toda a América do Sul.
Ou seja, o Brasil tem aqui uma
chance única, primeiro porque esse acordo tecnológico permitiria o
desenvolvimento de uma sistema nacional que fizesse uso não apenas da
tecnologia e da constelação do GLONASS, como também poderia criar um sistema
que utilizasse também a rede do GALILEO, algo que claramente seria possível e é
óbvio que a União Européia teria interesse em colocar bases de transmissão de dados
do GALILEO aqui no Brasil, o que melhoria muito a sua performance, em segundo
lugar, manter essas bases de transmissão por aqui, juntamente com o
desenvolvimento de um sistema nacional, permitiria que os demais países da
América do Sul adotassem esse sistema para uso, ou seja, além da segurança e da
soberania tecnológica, o Brasil conseguiria se impor com mais força nesse
cenário.
Existem atualmente 4 Constelações
do sistema GNSS em órbita, e vendo como elas estão, fica mais fácil entender
como esses sistema tem apresentado tanta precisão.
GPS:
- 6 Planos Orbitais;
- 24 satélites + 3 sobressalentes;
- Ângulo de 55º de inclinação;
- Altitude de 20.200 km.
GALILEO
- 3 Planos Orbitais;
- 27 satélites + 3 sobressalentes;
- Ângulo de 56º de inclinação;
- Altitude de 23.616 km.
GLONASS
- 6 Planos Orbitais;
- 35 satélites: 5 Geoestacionários, 27 Meo (Órbita Média) e 3 IGSO (Órbita Geoestacionária Inclinada);
- Ângulo de 64,8º de inclinação;
- Altitude de 19.100 km.
BEIDOU
- 3 Planos Orbitais;
- 21 satélites + 3 sobressalentes;
- Ângulo de 55º de inclinação;
- Altitude de 38.300 km e 21.200 km.
Bom, teoricamente é possível, mas a menos que tenha sido desenvolvida alguma nova tecnologia para isso, isso é muito inviável, dispendioso, trabalhoso e por aí vai, eis alguns pontos:
1 - Os sinais transmitidos pelos satélites do GPS são unidirecionais: saem do espaço e alcançam, ao mesmo tempo, receptores em qualquer parte do mundo. Dessa forma, especialistas apontam que é bastante improvável cortar o sinal do GPS somente para um país ou território, sem afetar regiões vizinhas.
Porém, podem existir maneiras de interferir
localmente no funcionamento do GPS. Algumas dessas técnicas já foram usadas em
zonas de conflito ou de interesse estratégico.
A principal é o "jamming", que é um bloqueio de sinal feito
com dispositivos que emitem ondas de rádio para neutralizar o sinal original
dos satélites. O bloqueio consiste em prejudicar a recepção do sinal com um
transmissor na mesma frequência, mais forte. Porém, para isso, seria necessário
criar a interferência a partir do Brasil, o que pode ser um ato de sabotagem.
2 - O desligamento seria feito em áreas
específicas, então para se cobrir todo o território nacional, isso iria
demandar tempo e recursos, além de se exigir que houvessem “desligamentos” –
entenda-se sabotagem - de estações de recepção aqui no Brasil.
4 – Quais as Consequências de um desligamento do GPS no Brasil?
Se houvesse algum tipo desligamento,
o Brasil entraria no apocalipse? Não! Haveria muitas dificuldades e problemas?
Sim! Não entendeu? Vamos lá.
O Brasil teria sim diversas dificuldades em relação a isso, mas sinceramente? Se tem um povo que se vira bem na hora do aperto, esse é o brasileiro. Os maiores impactos seriam em equipamentos e sistemas anterior a 2018, que ainda trabalhavam apenas com o GPS, os mais modernos já tem a opção de acessar os demais sistemas já falados. Ocorreriam sim atrasos e outros problemas, aguardando uma atualização dos sistemas, mudanças de hardware - que demorariam mais - mas isso não iria parar o país. O problema é que os setores que sofreriam maior impacto seriam justamente alguns dos pilares econômicos do país, como o agronegócio e a indústria de navegação.
Os principais ramos de negócio do país fazem o uso “pesado” do GPS, são os seguintes:
·
Aviação;
·
Controle de desastres e respostas de emergência;
·
Transporte terrestre;
·
Marítimo;
·
Mapeamento e levantamentos;
·
Monitoramento ambiental;
·
Agricultura de precisão;
·
Gerenciamento de recursos naturais;
·
Pesquisa, como estudo de ionosfera e mudanças
climáticas;
·
Comunicações móveis via satélite;
·
Referência precisa do tempo;
·
Munições militares tele guiadas.
A agricultura de precisão,
que movimenta centenas de bilhões de reais anualmente, depende do GPS para otimização
de plantio, aplicação de fertilizantes e defensivos, e operação de máquinas
autônomas. Segundo dados do setor, cerca de 75% das operações agrícolas
modernas utilizam algum tipo de tecnologia baseada em GPS. Na mineração, o
percentual chega a 70%, enquanto a exploração petrolífera também apresenta
dependência significativa do sistema americano.
Mas a dependência vai além
dos setores primários. O sistema bancário brasileiro utiliza o GPS para
sincronização de transações e operações de alta frequência. A aviação civil
depende do sistema para navegação de precisão, especialmente em pousos e
decolagens. As redes de telecomunicações usam os sinais de tempo do GPS para
sincronizar suas operações. Até mesmo aplicativos de transporte como Uber e 99
dependem fundamentalmente do sistema americano.
O grande problema do
Brasil é a total dependência tecnológica de sistemas essenciais para a
soberania do país, e essa questão já é antiga em todos os governos que já
passaram por aqui, sejam de esquerda ou de direita, e esse problema novamente
bate a nossa porta, as demais nações que entenderam isso, buscaram cortar essa
dependência criando seus sistemas.
O coronel da reserva da
Força Aérea Júlio Shidara, presidente da Associação das Indústrias
Aeroespaciais Brasileiras (AIAB), alertou durante o 1º Seminário de Segurança,
Desenvolvimento e Defesa no Ambiente Espacial, realizado em Brasília em julho
de 2025, que “o Brasil não possui alternativas nacionais robustas, o que
compromete a soberania em setores vitais como energia, telecomunicações e
defesa.”
Setores que se adaptariam rapidamente
Em um cenário hipotético de interrupção do
GPS americano, diferentes setores da economia brasileira apresentariam
velocidades distintas de adaptação. Os setores mais modernos e tecnologicamente
atualizados conseguiriam fazer a transição em questão de dias ou semanas.
O setor de transporte urbano, incluindo
aplicativos como Uber e 99, seria um dos primeiros a se adaptar. Os smartphones
que operam esses serviços já suportam múltiplos sistemas GNSS e fariam a
transição automaticamente. O mesmo vale para a navegação automotiva civil e a
maioria dos serviços de entrega.
A aviação comercial, embora inicialmente
impactada, também possui alternativas. Aeroportos brasileiros já contam com
sistemas de navegação baseados em múltiplas tecnologias, incluindo o Galileo
europeu. O setor aéreo brasileiro tem investido em modernização de equipamentos
que suportam diversos sistemas GNSS.
Setores que precisariam de mais tempo
A agricultura de precisão e a mineração
apresentariam desafios maiores, mas não insuperáveis. Equipamentos mais
antigos, especialmente tratores e máquinas agrícolas fabricados antes de 2018,
poderiam precisar de atualizações de software ou hardware para suportar sistemas
alternativos ao GPS.
Segundo especialistas do setor, a adaptação
completa da agricultura de precisão levaria entre um e dois anos, período
necessário para atualização de equipamentos e treinamento de operadores.
Durante esse período, haveria redução na eficiência operacional, mas não
paralisia total das atividades.
O sistema bancário e as redes de
telecomunicações também precisariam de tempo para adaptação completa. Embora
possuam sistemas de backup, a sincronização baseada em GPS é fundamental para
operações de alta frequência. A transição para sistemas alternativos exigiria
investimentos em nova infraestrutura e testes extensivos.
Em meio a toda essa polêmica, devemos ter em
mente o seguinte, de alguma forma estamos muito “dependentes do sistema” e nesse
caso, de “um sistema”, e esse alerta deveria ser encarado com mais seriedade
por todos, pois essa vulnerabilidade em algum momento será explorada e usada
contra nós.
5 – O Que o Brasil Pode Fazer?
Infelizmente, devido aos
resquícios e falta de esclarecimentos sobre a questão da ditadura militar,
criou-se um “ranço” somado com interesses particulares, que todo e qualquer desenvolvimento
tecnológico militar no país significa uma volta à ditadura militar. Digo
desenvolvimento tecnológico militar, primeiro porque questões relacionadas a
aviação civil até pouco tempo eram totalmente reguladas pela Força Aérea
Brasileira, onde existia o compromisso na segurança e desenvolvimento de
tecnologias, mas aos poucos, essa gestão foi sendo entregue para o mercado privado,
que tem mais interesse financeiro, remendando aviões com fita crepe do que
investir em tecnologias. Um bom exemplo disso são as tentativas frustradas de
se desenvolver no Brasil aplicativos com o “software livre”, com tecnologias de
ponta, atendendo aos interesses nacionais, o que aumentaria a segurança em
todas as aplicações tecnológicas e o melhor, o Brasil não ficaria refém das
ameaças de quem quer que fosse, de suspender, taxar ou cortar o acesso a
determinado sistema vital para a nação. Independente de posições políticas,
enquanto qualquer governante não entender isso, o Brasil continua um “gigante
abobalhado”, dominado por qualquer um que tenha enxergado isso, por que aqui
vale o ditado, “Em terra de cego, quem tem um olho é rei!”.
Fontes
- https://atlasescolar.ibge.gov.br/cartografia/21971-sistema-global-de-navegacao-por-satelite-gnss.html
- https://www.ocafezinho.com/2025/07/19/gps-americano-desmistificando-os-medos-e-revelando-as-alternativas-que-o-brasil-ja-possui/
- https://www.e-education.psu.edu/geog862/node/1871
- https://www.agi.com/articles/Chinese-GPS-system-BeiDou-begins-service
- https://www.researchgate.net/figure/GPS-satellites-constellation_fig2_221153526
- https://www.embrapa.br/satelites-de-monitoramento/missoes/glonass
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