segunda-feira, fevereiro 13, 2006

Política de cotas nas Universidades, solução ou enrolação?

Uma nova polêmica está no ar, a tramitação do projeto de lei que reserva metade das vagas nas universidades públicas para quem fez todo o ensino médio (2º grau) em escola pública, criticado por uns e festejado por outros, tal projeto põe ainda mais lenha na fogueira da condição social X educação X segregação social etc e tal. Qual o grande problema então?

Bom, por um lado estão as escolas particulares e todos os órgãos ligados a elas, que criticam arduamente e tentam barrar através de lobbys no Congresso Nacional esse projeto; uma das associações de escolas particulares acusou o projeto de criar uma "reserva de mercado" e que a solução estaria na melhoria do ensino público, bom até aí o que posso ver são "meias verdades", concordo plenamente que um ensino fundamental e médio sucateados não vão dar estudantes notórios para a sociedade, que é responsabilidade não só constitucional, como ética do governo de oferecer as melhores condições de ensino, escolas bem equipadas, professores bem remunerados, material de primeira, mas sabemos que isso não vai acontecer tão cedo e mesmo que começasse hoje, levaríamos pelos menos, 13 anos para ver os resultados, e num país como o Brasil, isso significa "naufrágio a vista", mas é muita ingenuidade acreditar que as pessoas ligadas a sindicados de escolas particulares, donos de colégio e coisa parecida, estão preocupados com a questão da educação, a grande preocupação é simplesmente o medo de algo que vai acabar ocorrendo, uma procura maior pela escola pública, fazendo com que haja uma grande "evasão matricular" no ensino privado. Mas, é justa a proposta do governo?

Na minha opinião, é sim e já vem bem atrasada, o que ocorre no nosso país? Bom, acho que posso comparar da seguinte forma:
Escolas Públicas:
  1. Superlotação em salas de aula.
  2. Professores mal remunerados e muitas vezes com carga horária excessiva.
  3. Material escolar defasado e as vezes de conteúdo muito fraco.
  4. Greves escolares.
  5. Falta de estrutura em muitas escolas, carteiras destruídas, fiação elétrica exposta, problemas estruturais, etc.
  6. Falta de funcionários.
  7. Falta de professores, chegando ao cúmulo de escolas ficarem alguns semestres sem professores de várias matérias.
  8. Falta de laboratórios de informática, de química, física e biologia para aulas práticas.

Escolas Privadas:

  1. Carga horária maior de aulas.
  2. Aulas práticas em laboratórios de química, física e biologia.
  3. Laboratórios de informática completos, com ministração de aulas ali mesmo.
  4. Professores bem remunerados e gabaritados.
  5. Não há greve escolar (devido inclusive ao risco de demissão por justa causa).
  6. Não há falta de funcionários que possa comprometer o funcionamento da escola.
  7. Material atualizado e voltado para os principais vestibulares do país, geralmente em Universidades Federais.
  8. Laboratórios de acompanhamento, plantão de dúvidas, aulões, etc.
  9. Planejamento voltado para a maior quantidade de aprovados possível no ENEM, PAS e no próprio Vestibular.

Ora, comparando-se as condições das duas escolas, não é difícil de se imaginar porque diversos colégios particulares detem recordes de aprovação em universidades federais, nos cursos mais concorridos, a concorrência contra um aluno vindo de uma escola pública, não é desigual, é desumana, chegando a beira do massacre. Como que um aluno pode competir em igualdade para um curso mais concorrido com alguem vindo da escolar particular?
Parece que o governo acordou para esse problema e resolveu tentar arrumar um pouco a situação, que reafirmo, será apenas provisória, haverá uma busca maior pelo ensino público, devido as condições financeiras de muitas famílias, principalmente as de classe média, tudo isso vai gerar um inchaço, e que vai exigir do governo uma atitude mais séria, mas até lá, concordo com tal atuação.
Há pouco tempo houve um debate semelhante, e foi mostrado pelo jornal Correio Braziliense - aqui de Brasília - que apesar das dificuldades, um bom número de alunos de escolas públicas havia conseguido entrar na Universidade de Brasília, só que os cursos - não menosprezando nenhum curso escolhido - eram cursos como letras, pedagogia, biblioteconomia, artes cênicas, e alguns conseguiram passar para administração.
A grande questão é a seguinte, a UnB tem como rol de cursos concorridos, as cadeiras de Medicina, Odontologia, Direito, todas as áreas de Engenharia, Mecatrôncia, Comunicação Social, etc. ou seja, parece existir uma segregação interessante, pois esses cursos têm em sua quase totalidade, alunos provenientes de ótimas escolas particulares, mas conta-se nos desdos, o número de que veio de uma escola pública, a diferença é muito grande, quem pode pagar por um ensino melhor não deve ser criticado ou cruxificado por ter uma condição melhor que os demais, mas também não pode esperar que o seu sucesso no vestibular acabe se dando, mesmo que indiretamente, através do insucesso de outros, por não terem tido condições mais justas.