domingo, março 19, 2017

Carta para Maurício de Sousa



           Caro Maurício de Sousa, meu nome é Kelsen Pio Belo Coelho, tenho 43 anos, sou casado e pai de 3 filhos, 2 meninos e uma menina, sou cristão, servidor público, e ao longo da minha vida profissional aprendi a não misturar minha crença com minhas atividades profissionais, nunca deixei de atender a uma pessoa por professar uma crença diferente da minha, nunca embuti em meus trabalhos ou relatórios mensagens referentes a minha fé, como minha própria idade entrega, eu cresci acompanhando e sabendo quem era cada um dos personagens da “Turma da Mônica”, suas aventuras, suas mudanças, os novos personagens como a Marina, a Dorinha, a revista da Magali, Turma da Mônica Jovem, e tantos outros, me lembro do primeiro filme da turminha que vi no cinema, “A Princesa e o Robô” e os demais que se seguiram, num mundo e numa época em que os quadrinhos  se perderam, tornaram-se mais violentos, trouxeram mensagens mais perturbadoras, vi com alegria a “Turma da Mônica” sobreviver e manter suas raízes, vi que ela acompanhou o tempo e tratou de assuntos como vícios, drogas, “bulling”, e tantos outros, nem sei quantas vezes indiquei para amigos, escolas, doações para bibliotecas dessas revistas, e sempre dizendo que as mesmas traziam aquela pureza, aquela fantasia infantil, me lembro com orgulho da história que você fez tratando da morte do Papa João Paulo II, uma história fantástica, que sempre me emociona quando leio, pois bem, qual não foi a  minha surpresa e decepção ao ver noticiado na mídia a série de publicações da “Turma da Mônica” manifestando a doutrina do Espiritismo Kardecista.
            Maurício, é um direito seu ter a sua respectiva crença, você como proprietário da Maurício de Sousa Produções pode publicar o que quiser, mas não consigo esconder a minha decepção com tal atitude, não importa o que você diz estar divulgando nessas revistas, “paz, amor, humildade, etc.”, a questão não é essa, diversas religiões dizem o mesmo, mas nenhuma delas, nem mesmo o espiritismo fica somente nisso, cada um crê no que quer, mas usar um símbolo nacional - pois na minha opinião a “Turma da Mônica” se tornou isso para diversas gerações – para divulgar uma determinada doutrina religiosa é mais que ofender aos demais credos, é tirar toda a fantasia e pureza que havia nessa turminha, Maurício, ao ver tal notícia divulgada, meu mundo de fantasia e admiração com a turminha ruiu, desmoronou, não tenho como mostrar para meus filhos uma revista que junto com mensagens de paz e amor, também trata de “vidas passadas”, “reencarnação” entre outros pilares da doutrina espírita, não dá, pois não há diferença entre essas revistas e revistas e folhetos comuns de outras religiões, acaba a fantasia e começa o desrespeito, a invasão a minha fé e ao que ensino aos meus filhos.
            Maurício, essa não é uma carta de um cristão furioso e radical, é o desabafo de um fã que melhorou sua leitura lendo as revistas da “Turma da Mônica”, que se alegrou com cada aventura, que lia e relia cada “gibi” várias vezes, é o desabafo de alguém que se sente como uma criança que teve seu brinquedo preferido quebrado e que só pode chorar de tristeza, é como me sinto hoje, um fã que durante 40 anos leu, releu, viu os filmes no cinema, ostentou a alegria de ser um fã da “Turma da Mônica” e hoje não pode mais dizer isso.

            Um abraço!

            Kelsen Pio Belo Coelho