terça-feira, fevereiro 14, 2006

Liberdade de Expressão X Expressão de Liberdade

Não me lembro quem me a seguinte frase: "a sua liberdade termina, quando ela atinge a liberdade de outra pessoa", a princípio não entendia muito bem tal frase, mas com o passar dos anos, comecei a ter uma consciência melhor disso. Sempre achei que essa frase deveria ser ensinada junto com “responsabilidade na informação”, devendo ser aplicada por todos os trabalham com informação.

Recentemente o mundo se viu as voltas com uma nova guerra, que tomou proporções até então inimagináveis por todos, um novo capítulo da “guerra das mídias”. Um jornal dinamarquês publicou há pouco tempo, charges cômicas do profeta Maomé, ícone máximo de uma das maiores e mais rígida das religiões do planeta. A celeuma toda se deve pelo fato do islã proibir qualquer tipo de representação do profeta, para evitar o risco de idolatria, nada que possa ser associado a sua imagem é aceito.

O efeito de tais publicações foi de tal intensidade, que só poderia ser comparada a intifada palestina na Faixa de Gaza, centenas de muçulmanos foram às ruas para protestar, primeiro na Dinamarca e depois se alastrando por todo o mundo, da África a Indonésia, Oriente Médio, Oceania e Américas, o mundo se viu as voltas com uma situação crítica. Para piorar a situação, logo após as primeiras manifestações, o redator chefe do jornal dinamarquês se negou a pedir desculpas a comunidade muçulmana, alegando o direito de “liberdade de expressão”, publicando então novas charges. O resultado não poderia ser pior, não só as manifestações se intensificaram, como também se tornaram mais agressivas. Embaixadas Dinamarquesas começaram a sofrer protestos, invasões e ataques em várias partes do globo, sem que os governos locais conseguissem evitar.

A partir daí, a “guerra das mídias” ganhava mais um capítulo, a acusação de quem era intolerante, alguns começaram a dizer que a “liberdade não poderia se render a questões de radicais”, outros já começavam a propor um debate sobre a questão das charges. E como dizia um grande filósofo “desgraça pouca é bobagem”, um jornal satírico francês publicou mais charges do profeta Maomé e ainda uma suposta entrevista, em que o profeta teria ligado do “Além” para dar sua opinião sobre os acontecimentos, sendo que a França ainda tenta se recuperar de uma série de violentos protestos realizados por imigrantes menos favorecidos, sendo que boa parte deles é de muçulmanos. Bom, tal liberdade de expressão de seqüência a uma séria de expressões de liberdade. Uma jovem muçulmana, residente na Dinamarca disse mais ou menos o seguinte, “as pessoas têm essa posição de defesa radical contra as charges, por que ela fere algo que mexe sua fé”.

Deixando de lado toda a confusão formada, vamos analisar um pouco os fatos, num mundo que vive as voltas com questões de terrorismo e radicalismo, e que tem o Oriente Médio como um “barril de pólvora”, qual a finalidade de tais charges? Se a intenção era de fazer rir, o efeito foi justamente o contrário. Mas o que quero questionar aqui é a questão da “liberdade de expressão”, parece que tal expressão só se aplica para valores diferentes dos vividos na nossa cultura. Há pouco tempo li um artigo num jornal sobre esse assunto, e me fiz a seguinte pergunta “como o oriente vê a tal liberdade de expressão no ocidente?”, quem pensa que por aqui a “liberdade de expressão” é uma só e igual para todos, provavelmente vive na “Ilha de Caras”.

Eu explico, vivemos uma cultura em que alguns “totens sagrados” não podem sofrer nenhum tipo de condenação, crítica, gozação, nada que possa questionar a sua suposta “santidade”, um exemplo disso, é comum no Brasil a referência sempre debochada a pastores e evangélicos em geral, que são tratados como ladrões, egoístas, intolerantes, xenofóbicos, e por ai vai. A mídia em geral sempre trata dessa forma, com comentários, matérias, acusações, charges, novelas, etc. símbolos e pilares protestantes são achincalhados, e tudo em nome da “liberdade de expressão”, mas há alguns anos, um fato mostrou o outro lado da moeda. O bispo da Igreja Universal do Reino de Deus, Von Helder, em um programa da igreja na TV Record, simplesmente chutou uma imagem da Senhora da Aparecida, dizendo que aquilo não passava de uma estátua de gesso, sem vida ou valor algum, o resultado? Uma verdadeira caça as bruxas, com tentativas inclusive de processo judicial contra a igreja e o bispo, pessoas criticando e condenando, mas em nenhum momento, alguém alegou a questão da ”liberdade de expressão” ou chamou a várias partes para um debate. Ou seja, quando a questão envolve a depreciação – mesmo que não intencional – de uma posição que fuja das nossas convicções, aí temos que ter tolerância e propor um diálogo, mas quando há ofensa, nada disso vale.

Outro ponto de exemplo recente, foi o acontecido com o diretor judeu-americano Steven Spilberg, que emocionou o mundo com o filme “A Lista de Schindler”, sobre o holocausto – e lhe rendeu vários oscars – o levou a ser aclamado pela crítica semita e por Israel, mas recentemente, ele viu a outra face disso, seu mais novo filme “Munique”, mostra a retaliação do governo israelense aos supostos mentores e colaboradores, do atento contra a comitiva judaica nas olimpíadas de Munique, onde o próprio personagem Avner questiona as ações de seus superiores se perguntado se aquilo era certo ou não? Ou de que adiantava tudo aquilo, como resultado, Spilberg tem sido fortemente criticado por setores judaicos, e até pelo próprio estado de Israel. Nesses últimos dias, um jornalista e cartunista carioca, publicou algumas charges na internet sobre o holocausto, ao invés de se falar em tolerância, o que aconteceu foram acusações de anti-semitismo e xenofobia. Ora, que “liberdade de expressão” é está? Quando alguns pilares nossos são atacados, não existe qualquer forma de debate, mas ao se ironizar outros, então devemos respeitar a democracia e o direito de expressão?

Os jornalistas dinamarqueses talvez não tenham tido a intenção de ofender o Islã, mas com certeza, agiram em relação a essa religião com “dois pesos e duas medidas”, e num mundo que vive no limite da tolerância, tal atitude pode pender a balança da vida para um lado ruim.

segunda-feira, fevereiro 13, 2006

Política de cotas nas Universidades, solução ou enrolação?

Uma nova polêmica está no ar, a tramitação do projeto de lei que reserva metade das vagas nas universidades públicas para quem fez todo o ensino médio (2º grau) em escola pública, criticado por uns e festejado por outros, tal projeto põe ainda mais lenha na fogueira da condição social X educação X segregação social etc e tal. Qual o grande problema então?

Bom, por um lado estão as escolas particulares e todos os órgãos ligados a elas, que criticam arduamente e tentam barrar através de lobbys no Congresso Nacional esse projeto; uma das associações de escolas particulares acusou o projeto de criar uma "reserva de mercado" e que a solução estaria na melhoria do ensino público, bom até aí o que posso ver são "meias verdades", concordo plenamente que um ensino fundamental e médio sucateados não vão dar estudantes notórios para a sociedade, que é responsabilidade não só constitucional, como ética do governo de oferecer as melhores condições de ensino, escolas bem equipadas, professores bem remunerados, material de primeira, mas sabemos que isso não vai acontecer tão cedo e mesmo que começasse hoje, levaríamos pelos menos, 13 anos para ver os resultados, e num país como o Brasil, isso significa "naufrágio a vista", mas é muita ingenuidade acreditar que as pessoas ligadas a sindicados de escolas particulares, donos de colégio e coisa parecida, estão preocupados com a questão da educação, a grande preocupação é simplesmente o medo de algo que vai acabar ocorrendo, uma procura maior pela escola pública, fazendo com que haja uma grande "evasão matricular" no ensino privado. Mas, é justa a proposta do governo?

Na minha opinião, é sim e já vem bem atrasada, o que ocorre no nosso país? Bom, acho que posso comparar da seguinte forma:
Escolas Públicas:
  1. Superlotação em salas de aula.
  2. Professores mal remunerados e muitas vezes com carga horária excessiva.
  3. Material escolar defasado e as vezes de conteúdo muito fraco.
  4. Greves escolares.
  5. Falta de estrutura em muitas escolas, carteiras destruídas, fiação elétrica exposta, problemas estruturais, etc.
  6. Falta de funcionários.
  7. Falta de professores, chegando ao cúmulo de escolas ficarem alguns semestres sem professores de várias matérias.
  8. Falta de laboratórios de informática, de química, física e biologia para aulas práticas.

Escolas Privadas:

  1. Carga horária maior de aulas.
  2. Aulas práticas em laboratórios de química, física e biologia.
  3. Laboratórios de informática completos, com ministração de aulas ali mesmo.
  4. Professores bem remunerados e gabaritados.
  5. Não há greve escolar (devido inclusive ao risco de demissão por justa causa).
  6. Não há falta de funcionários que possa comprometer o funcionamento da escola.
  7. Material atualizado e voltado para os principais vestibulares do país, geralmente em Universidades Federais.
  8. Laboratórios de acompanhamento, plantão de dúvidas, aulões, etc.
  9. Planejamento voltado para a maior quantidade de aprovados possível no ENEM, PAS e no próprio Vestibular.

Ora, comparando-se as condições das duas escolas, não é difícil de se imaginar porque diversos colégios particulares detem recordes de aprovação em universidades federais, nos cursos mais concorridos, a concorrência contra um aluno vindo de uma escola pública, não é desigual, é desumana, chegando a beira do massacre. Como que um aluno pode competir em igualdade para um curso mais concorrido com alguem vindo da escolar particular?
Parece que o governo acordou para esse problema e resolveu tentar arrumar um pouco a situação, que reafirmo, será apenas provisória, haverá uma busca maior pelo ensino público, devido as condições financeiras de muitas famílias, principalmente as de classe média, tudo isso vai gerar um inchaço, e que vai exigir do governo uma atitude mais séria, mas até lá, concordo com tal atuação.
Há pouco tempo houve um debate semelhante, e foi mostrado pelo jornal Correio Braziliense - aqui de Brasília - que apesar das dificuldades, um bom número de alunos de escolas públicas havia conseguido entrar na Universidade de Brasília, só que os cursos - não menosprezando nenhum curso escolhido - eram cursos como letras, pedagogia, biblioteconomia, artes cênicas, e alguns conseguiram passar para administração.
A grande questão é a seguinte, a UnB tem como rol de cursos concorridos, as cadeiras de Medicina, Odontologia, Direito, todas as áreas de Engenharia, Mecatrôncia, Comunicação Social, etc. ou seja, parece existir uma segregação interessante, pois esses cursos têm em sua quase totalidade, alunos provenientes de ótimas escolas particulares, mas conta-se nos desdos, o número de que veio de uma escola pública, a diferença é muito grande, quem pode pagar por um ensino melhor não deve ser criticado ou cruxificado por ter uma condição melhor que os demais, mas também não pode esperar que o seu sucesso no vestibular acabe se dando, mesmo que indiretamente, através do insucesso de outros, por não terem tido condições mais justas.